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3 perguntas a 3 autoras

Publicado a 18/05/2022, na categoria: Lilliput

Em antecipação do Dia Internacional da Mulher, falámos com três autoras que, no âmbito da sua atividade, discutem as questões do feminismo e da igualdade de género: Ana Markl, radialista e jornalista (Onde Moram os Teus Macaquinhos, ed. Lilliput), Lúcia Vicente, escritora, atriz e ativista (Portuguesas com M Grande, Raízes Negras, Sarita Rebelde, ed. Nuvem de Tinta), e Patrícia Lemos, educadora menstrual e para a fertilidade (Período, ed. Booksmile). Desafiámos as autoras a responder brevemente a três questões.

 

1. Troca o feminismo por miúdos
2. Como se aprende a igualdade de género?
3. Como se acaba com a violência no namoro?

 

Ana Markl

1. O feminismo é a luta de todos pela igualdade. Não se trata de sermos iguais uns aos outros, como muita gente acha, mas igualmente livres para sermos quem somos e perseguirmos os nossos sonhos.

2. A igualdade de género aprende-se apagando da nossa identidade o constrangimento dos estereótipos, deixando que crianças sejam livres para brincarem ao que quiserem, para se vestirem como quiserem, para aceitarem o outro. A igualdade de género será aprendida a partir do momento em que os adultos deixem de dizer que os meninos não choram ou que certas meninas são “marias-rapaz”. A partir daí, tudo será mais fácil.

3. A violência no namoro irá acabar quando todo o ser humano se permitir ser vulnerável. A vulnerabilidade ajuda-nos a assumir as nossas inseguranças, a confiar mais nos outros, a criar laços mais fortes e mais íntimos, a ser mais empáticos e respeitadores da individualidade – logo, a ser mais felizes. Enquanto permanecer o folclore romântico da posse, da pertença, da co-dependência, da desconfiança e do ciúme, continuaremos a perpetuar relações tóxicas que resultam em violência.

 

Lúcia Vicente

1. Feminismo é, pura e unicamente, a luta pela igualdade de direitos, deveres e oportunidades para todas as pessoas, independentemente do género a que pertencem. Perante este conceito, simples e igualitário, não compreendo quando as pessoas se dizem contra o feminismo.

2. Aprende-se, acima de tudo, pelo exemplo e através da educação. Numa primeira instância em casa e depois na escola. Se uma criança crescer com uma família em que a igualdade de géneros é respeitada, cujas tarefas domésticas são distribuídas de forma igualitária, em que a individualidade de cada membro da família é respeitada, então, essa criança já fez algum caminho para olhar o mundo com “olhos” e atitudes igualitárias. Se a esta educação familiar se juntar ao esforço educacional que as escolas têm vindo a fazer: voilá! Claro que as vivências desta criança serão sempre contestadas pelas normativas impostas, um pouco por todo o lado (inclusive em alguns manuais escolares que ainda necessitam de revisões sérias), e pelo machismo estrutural da nossa sociedade, mas se estiverem sensibilizadas e educadas para a igualdade de géneros, saberão como questionar e contestar estas normativas patriarcais e como lutar contra elas. Resumindo: educar, educar, educar!

3. Enquanto a nossa sociedade normalizar e aceitar determinados padrões comportamentais, que muitas vezes estão baseados nos estereótipos e desigualdades de género, dificilmente alguma coisa mudará. Enquanto as nossas crianças ouvirem frases que normalizam a violência, desrespeitam o direito de sentir na plenitude as emoções e desresponsabilizam determinados comportamentos (como quanto mais me bates, mais eu gosto de ti ou os rapazes não choram ou pffff, rapazes, não há nada a fazer) dificilmente vamos conseguir colocar um fim a este flagelo. Acredito que a violência no namoro se tornou de tal forma estrutural – basta assistir a filmes e séries dedicadas a audiências mais jovens para assistirmos a várias formas de violência a serem normalizadas – que é urgente falar sobre ela. E o tema deve ser abordado de forma prática, e com exemplos reais e duros, junto dos mais jovens. Acredito, também, que a violência no namoro se combate através da educação para a igualdade de género, na medida em que a mesma promove vivências mais empáticas, mais solidárias, fugindo das normativas sociais e mais conscientes das liberdades individuais. Um rapaz feminista intervirá quando ouvir outros rapazes a assediar uma rapariga, uma rapariga feminista intervirá quando a sua amiga não respeitar a privacidade da pessoa com quem partilha uma relação amorosa ou de intimidade, jovens feministas compreenderão que é errado utilizar poder e privilégios para subjugar pessoas, porque acreditam na igualdade de direitos. Assim, acredito que é através de uma educação para a igualdade de géneros, que poderemos começar a combater a violência nas relações.

 

Patrícia Lemos

1. O feminismo assenta na ideia de que nenhuma pessoa deve ser discriminada nas suas oportunidades e escolhas por ter nascido mulher.

2. a) Identificando os estereótipos existentes (na sociedade, na nossa comunidade e família) e desconstruindo-os a cada dia.
b) Promovendo atitudes não diferenciadoras entre pessoas com as mesmas capacidades ou competências, independentemente do seu sexo e género.

3. a) Assentando todos os relacionamentos em respeito e consentimento.
b) Prestando atenção a sinais de alerta como controlo, ciúme e invasão de espaço mental, físico ou virtual.
c) Não guardando segredo sobre o que está acontecer e partilhando-o com um adulto logo que possível.
d) Compreendendo que o Amor é sempre gentil, leve e feliz.

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