• 0 Items - 0,00
    • Carrinho vazio.

Mary Katherine Martins e Silva: «Escutem as crianças, falem com elas»

Publicado a 01/02/2023, na categoria: Entrevistas, Destaque, Fábula

A experiência como investigadora na área da educação e como educadora de infância, com a proximidade às diferentes vivências de muitas crianças, tem ajudado a autora da coleção MATILDE a encontrar os temas e o tom para os vários livros da coleção, que falam das rotinas dos mais pequenos e dos desafios do crescimento. No mais recente volume, Matilde: Quando Se Perde Alguém, a autora encontrou um fio condutor que aborda a perda de um ente querido, sem criar uma narrativa triste ou lúgubre. A partir das vivências de uma colega de infantário que perdeu a mãe, a Matilde vai descobrir como se constrói a vida de então em diante, e como se continua a crescer. Com memórias felizes e pequenos rituais que confortam e iluminam os dias. 

 

Como é que surgiu a ideia de criar a coleção da Matilde?

A Matilde surgiu como uma prenda caseira para a minha sobrinha mais velha, quando ela ainda estava na barriga da mãe. Fiquei tão entusiasmada com a notícia de ser tia que quis fazer algo diferente para lhe oferecer. A Matilde seria uma amiga mais velha que lhe iria ensinar tudo o que há para saber sobre o mundo cá fora. Não foi pensada para publicar, isso aconteceu mais tarde.

 

Cada título da coleção tem um tema diferente. Como surgem as ideias para livros novos?

Sou educadora de infância. Os temas surgem da minha experiência diária com crianças pequenas e das minhas próprias reflexões, perspetivas e preocupações em relação à educação de infância. São sempre muitas!

 

Falar sobre a morte às crianças foi sempre difícil. Mas, mais cedo ou mais tarde vão saber que faleceu um familiar ou alguém conhecido (um vizinho, um professor, uma figura pública). Não dar estas notícias será a melhor estratégia?

Não é essa a minha perspetiva, pois isso seria estar a enganar as crianças. É possível falar com as crianças sobre todos os assuntos, incluindo a morte, até porque elas têm teorias e conceções sobre esses acontecimentos e é preciso escutá-las e apoiá-las.

 

Neste livro não é a Matilde, a protagonista, que perde alguém, mas sim uma colega do Jardim de Infância. Porque é que escolheu esta forma de abordar o tema?

Esta foi a história da coleção mais difícil de escrever, confesso. Sendo dirigida a crianças pequenas, não quis que fosse um acontecimento que tivesse lugar no decorrer da narrativa, pois assim iria ser uma história inevitavelmente mais pesada. Ao longo do tempo têm passado por mim algumas crianças que, infelizmente, passaram por situações idênticas à da Elsa e eu quis retratar a capacidade que essas crianças tiveram para lidar com a sua perda. Essa personagem surge assim como uma amiga da Matilde que já tinha passado pela morte de alguém muito próximo, que suscita a sua reflexão e o seu questionamento sobre o assunto. Também não queria uma história pesada, triste, mas uma história de esperança e de continuidade.

 

As crianças não vivem fora do mundo dos adultos. Ouvem falar sobre pandemias e guerras. Vale a pena explorar com elas estes assuntos?

Cabe-nos a nós, adultos, ajudar as crianças a fazer a leitura do mundo que as rodeia. As crianças não vivem em redomas ou isoladas do mundo. Nem podem. Há sobretudo que adequar a forma e o discurso à idade das crianças, percebendo primeiro aquilo que elas verdadeiramente querem saber.

 

Que dicas daria a alguém que sabe estar próximo o dia da morte de um familiar próximo de uma criança?

Depende da situação e cada caso é um caso. Depende da idade da criança, da relação da criança com essa pessoa, do próprio estado emocional em que se encontram os adultos que estão com as crianças.
Mas conversar, explicar o que está a acontecer, escutar as crianças continuam a ser os meus conselhos. Muitas vezes as crianças apercebem-se de qualquer coisa, sem saber bem o que se passa e é preciso que alguém esteja disponível para lhes explicar. De forma simples, direta, mas verdadeira.

 

Quando se trata da morte de um animal de estimação, a conversa é muito diferente?

Creio que a resposta é a mesma.

 

Cada livro contém um Guia de Leitura para Pais e Educadores escrito por si. Em que se baseia para o escrever? Obras de pedagogia e psicologia ou experiência pessoal?

Todas essas bases são importantes e é nelas que se fundamentam os guias, sendo que a experiência, a reflexão pessoal e profissional têm um peso bastante significativo. São todos temas muito próximos, inspirados na minha própria realidade e prática educativa.

 

A atenção e dedicação dos pais e da educadora são sempre elementos importantes destas histórias. Parar para ouvir e falar com as crianças é vital para o seu desenvolvimento. Que mensagem gostaria de passar aos adultos que vivem hoje muito atarefados e cheios de solicitações?

Escutem as crianças. Falem com elas. Respondam às suas perguntas com verdade e com respeito. E sentem-se com elas, nem que por dez minutos, e deixem-se deslumbrar.

 

Partilhar