Mike Barfield: «Tento encontrar uma abordagem divertida em cada página, seja uma piada recorrente ou um uso cómico das palavras.»

Publicado a 06/03/2023, na categoria: Entrevistas, Booksmile, Destaque

Autor de livros de não-ficção para crianças, cartoonista e poeta cómico, o britânico Mike Barfield conquistou o prémio Blue Peter, um dos mais prestigiados no campo da literatura infantojuvenil, com o primeiro volume da coleção de novelas gráficas UM DIA NA VIDA, que a Booksmile acaba de publicar em Portugal. O humor é o primeiro e mais importante recurso do trabalho deste escritor e ilustrador polivalente. Encontrar o ângulo divertido em qualquer assunto, a piada certeira, o jogo de palavras – eis a missão deste poeta cómico que transforma a aprendizagem da História e a Ciência numa anedota com pés, cabeça e punch line.

 

Como se tornou autor e ilustrador de livros de não-ficção para crianças?

Nos anos 2000, vivia eu com a minha jovem família numa cidade perto de Londres, quando tive a ideia de criar um guia de sobrevivência para moscas domésticas. Tendo uma licenciatura em Biologia, estava bem ciente de como as moscas servem de alimento a vários outros seres vivos, incluindo plantas! Esbocei algumas páginas e enviei-as a um agente que conseguiu encontrar um editor. Terminei o livro, intitulado SWAT!, A Fly’s Guide to Staying Alive [tradução livre, ZÁS! Guia para uma mosca se manter viva], mas por vários motivos o livro só viria a ser publicado vários anos mais tarde. Entretanto, comecei a fazer workshops de escrita em escolas locais e percebi que tinha jeito para trabalhar com crianças e jovens. Quando nos mudámos para North Yorkshire, onde vivo atualmente, comecei a conviver com alguns autores locais de livros para crianças, que gentilmente me encorajaram a tentar fazer mais livros. Buster, a editora da coleção Um Dia na Vida, gostou de uma ideia que apresentei acerca um livro de atividades científicas do tipo faça você mesmo, intitulado Destrói este Livro em Nome da Ciência!. E assim teve início uma bem-sucedida parceria. Penso que eles gostaram da diversão e do humor que eu trouxe para temas de não-ficção. Foram eles que me convidaram para trabalhar no primeiro título da coleção Um Dia na Vida. Estou muito grato à Buster e aos seus maravilhosos editores e designers.

 

Qual foi a sensação de ganhar o Blue Peter pelo livro Um Dia na Vida de um Pum, um Pangolim e Outras Histórias Espantosas? Que tipo de reconhecimento lhe trouxe este prémio?

Cresci a ver o programa de TV [Blue Peter, um programa de televisão britânico, transmitido desde 1958] por isso foi uma honra enorme receber o prémio, em especial porque o júri é constituído por crianças. Infelizmente, aconteceu durante a pandemia por isso a Jess (a ilustradora) e eu não podemos estar presencialmente nos estúdios de TV, mas ainda assim foi bastante emocionante. A parte difícil é manter segredo, já que somos informados com alguma antecedência, para garantir que estamos disponíveis no dia em que os vencedores são anunciados. O prémio trouxe maior visibilidade ao livro, claro, e valeu-lhe um fantástico autocolante Blue Peter na capa. Ver o livro assim nas livrarias foi bastante mágico. Creio que todos os autores gostam da descrição ‘autor premiado’. Não apenas pela glória, mas pela confirmação de que estamos a escrever livros populares que são apreciados pelas pessoas. Isso é o mais importante.

 

Aprender Ciência e História através de novelas gráficas incríveis, e ainda por cima cheias de humor, parece ser a solução para cativar os miúdos. Qualquer matéria é interessante desde que seja bem contada?

Diria que sim. E as ilustrações da Jess Bradley são superatrativas! Os desenhos dela têm uma importância enorme para o sucesso dos livros. Ela própria também é uma escritora e cartoonista muito engraçada.

 

É um cartoonista premiado e mantém há vários anos uma coluna numa revista satírica. Que papel tem o humor na sua vida?

Imaginar piadas é o que faço grande parte do dia atualmente, já que tenho a sorte de ser requisitado como escritor de livros humorísticos para crianças, graças ao sucesso da coleção Um Dia na Vida. E de facto, também sou cartoonista numa revista satírica britânica para adultos, chamada Private Eye. Ou seja, estou constantemente à procura do ângulo cómico nas notícias e na vida contemporânea. É uma pressão grande porque há imensos cartoonistas brilhantes na revista, todos a tentar fazer boas piadas, por isso tenho de tentar arranjar alguma coisa diferente. Em cada página dos livros da coleção Um Dia na Vida tento encontrar uma abordagem divertida para o tema a tratar, seja uma piada recorrente ou um uso cómico das palavras. Por isso, estou muito contente pelo facto de o segundo livro da série ter sido nomeado para o prémio britânico Lollies Award, que se destina a reconhecer o uso do humor nos livros para crianças.

 

Lemos também no seu site que se descreve como «poeta cómico», uma ótima expressão que não se ouve muitas vezes. O que é um poeta cómico?

Um poeta cómico é um tipo
Cujos poemas te fazem rir, não chorar.
Claro que também pode ser uma mulher.
Melhor ainda, podes ser TU!

O texto traduzido provavelmente não rima, mas tentei o meu melhor! Felicidades para os meus amigos europeus em Portugal, espero que se divirtam a ler os livros tanto quanto eu me diverti a escrevê-los!

 

* A comic poet is a guy
Whose poems make you laugh, not cry.
Of course, they could be female too.
Better still, they could be YOU!

 

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