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Penguin Clássicos: a literatura universal acessível a todos

Publicado a 06/06/2022, na categoria: Destaque

Quando se pensa em clássicos da literatura pode-se incorrer no erro de imaginar volumes pesados e sonolentos, alinhados em estantes inacessíveis, a ganhar pó em bibliotecas bafientas. Nada mais distante da experiência que a grande literatura tem para nos proporcionar, em qualquer fase da vida.

Surgida no pós-guerra, em 1946, a icónica coleção Penguin Classics nasceu com o propósito de disponibilizar os grandes textos da literatura mundial em edições de bolso, cuidadas mas acessíveis. A democratização no acesso aos textos, e uma certa dessacralização da obra literária estão na génese desta marca que se tornou mundialmente famosa e reconhecível, pelo design elegante e sóbrio, e por uma estética que ditou tendências no mundo da edição.

Em 2021, 75 anos após o nascimento da coleção no Reino Unido, a Penguin Clássicos chegou a Portugal, estreando-se com a publicação de sete títulos. Eça de Queirós e Cesário Verde, entre os portugueses, tiveram honras de abertura do catálogo. A estes nomes maiores das nossas letras, mestres, respetivamente, do romance e da poesia, juntaram-se, e aqui usamos a ordem cronológica de nascimento, Rosseau, Lima Barreto, Virginia Woolf, Kafka e George Orwell, este nascido já no século XX.

Um cânone diverso

Neste momento são doze as obras disponíveis no catálogo. Uma seleção ainda curta para a grandeza da literatura, mas que abarca já todos os géneros, incluindo o teatro. Shakespeare. Camilo Castelo Branco, Oscar Wilde, Maquiavel e Júlia Lopes de Almeida completam a lista dos doze primeiros. E muitos mais virão. A diversidade é um dos objetivos, denotando uma visão eclética e abrangente do cânone.

Eurídice Gomes, responsável editorial, adianta o que podemos esperar das próximas edições:

«Para os próximos títulos dos Penguin Clássicos, podemos esperar continuidade. Insistimos na diversidade de géneros literários, de línguas originais, de temáticas, de autores. Cada clássico é-o por razões muito distintas, mas une-os o poder disruptivo que exerceram aquando da sua publicação original, a surpresa que causaram na época em que foram escritos, a originalidade que ainda hoje lhes reconhecemos, independentemente dos anos ou séculos que tenham passado. São esses os valores que os Penguin Clássicos exaltam e a que, cremos, todos devem ter acesso.»

Para lá da icónica imagem da coleção, o que distingue estas edições de outras disponíveis no mercado? Desde logo traduções irrepreensíveis e um apurado trabalho de edição e revisão. Mas também as introduções e prefácios que enquadram e contextualizam as obras e os autores. Se é certo que cada um destes textos fundamentais vale por si, não é menos correto afirmar que, guiados por alguém capaz de iluminar ou desvendar aspetos menos claros, sairemos enriquecidos da leitura. Isso mesmo nos diz Eurídice:

«Sendo verdade que um dos maiores valores de um grande clássico da literatura é poder ser lido por qualquer pessoa em qualquer momento da sua vida ou da vida do mundo, não é menos verdade que partir para uma tal leitura com alguma contextualização pode enriquecer essa experiência e contribuir para uma melhor compreensão da obra. Essa tarefa de introdução à leitura de cada clássico deixámo-la a cargo de especialistas nas obras em questão, personalidades da nossa academia e sociedade com estudos feitos sobre os textos que prefaciam e com a capacidade de traduzir, para o leitor comum, a complexidade que esses mesmos textos encerram. É um trabalho difícil, mas extremamente útil e recompensador.»

Assim, Rosseau é introduzido por Francisco Louçã, enquanto Paulo Portas ajuda a decifrar Maquiavel para os leitores de hoje. A prosa de Abel Barros Batista abre o apetite para Camilo Castelo Branco. E em Otelo, tragédia maior, Daniel Jonas, tradutor e poeta, assume o duplo papel de tradutor e prefaciador.

Obras de teor político ou filosófico poderão encontrar alguma resistência por parte do público mais jovem, mas a verdade é que há grande vantagem em ler os grandes clássicos na juventude. E em voltar a eles mais tarde, na maturidade ou na velhice, para comprovar que o texto não envelheceu um dia sequer.

«Qualquer título da coleção Penguin Clássicos pode – e deve – ser lido na juventude.» Eurídice Gomes é categórica. «Falamos de grandes clássicos da literatura mundial, de todas as latitudes, que entraram para o cânone e perduraram no imaginário coletivo pela sua capacidade de falar com várias gerações, pelo caráter universal da sua mensagem e pela intemporalidade da sua estética. São livros de formação, todos eles, e a capacidade de serem apreciados não depende tanto da idade do leitor como da sua abertura para novas ideias, novos mundos, novas perspetivas.»

Desafiámos, contudo, a responsável editorial a fazer algumas recomendações. Assim, quem afirma não gostar de ler deve pegar de imediato no distópico A Quinta dos Animais, de George Orwell. Sabemos que as distopias são um dos subgéneros que mais agradam aos jovens, e esta não desiludirá ninguém.
Leitores experimentados poderão avançar sem medos para Otelo, talvez a mais bela tragédia de William Shakespeare.
Nem todos os clássicos são óbvios, e este catálogo tem o mérito de o provar com poucos títulos ainda disponíveis. Lima Barreto (1881-1922) e Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) são dois autores brasileiros “desconhecidos”, que o público português pode agora descobrir, respetivamente, através das obras Triste Fim de Policarpo Quaresma e A Falência. Já um clássico para reler muitas vezes, Eurídice elege Os Maias, obra-prima a que a refinada ironia e sentido crítico nos fazem voltar sempre.

Curiosamente, um dos títulos mais populares da coleção não é nenhum destes, mas sim o ensaio feminista de Virginia Woolf, Um Quarto Só Seu, numa edição prefaciada pela poetisa Ana Luísa Amaral. A análise de Woolf acerca da liberdade e da autonomia da mulher está bem patente no facto de o cânone ser maioritariamente masculino. Uma tendência que o catálogo Penguin Clássicos procurará também contrariar, dando a conhecer ao público português escritoras injustamente pouco conhecidas ou esquecidas.

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