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Philip Bunting: «Gostaria de fazer a minha parte para deixar o mundo em melhor forma do que estava quando aqui cheguei.»

Publicado a 20/03/2023, na categoria: Booksmile, Destaque, Entrevistas

Faz sucesso como autor de livros de não-ficção para crianças. Os três filhos são fonte de inspiração para os temas que escolhe tratar, assim como para as técnicas que ajudam a transmitir informação e conhecimento, com o humor a desempenhar um papel fundamental. Aquilo de que não falamos com as crianças, ou não falamos o suficiente, é o que move o seu trabalho. Tem uma lista em construção destes assuntos, que tocam aquilo que chama os «pontos cegos culturais e sociais» da sociedade em que vivemos. Despertar o interesse e o questionamento nas novas gerações que vão pensar e agir no mundo é a missão que definiu para si. Democracia (ed. Booksmile) é o novo e sexto livro do autor a ser publicado em Portugal. 

 

Como se tornou autor de livros de não-ficção para crianças? 

Foi por acaso! O meu primeiro livro para crianças (Mopoke) surgiu como um presente para o primeiro aniversário da minha filha. Não tinha intenções de o publicar, mas a minha cara-metade, Laura, encorajou-me a enviar o manuscrito para um punhado de editoras em Sydney. Quase sem dar por isso, tinha uns quantos livros ilustrados publicados.
Após mais ou menos um ano mergulhado em ficção, comecei a meter o dedo no mundo na não-ficção, com um livro chamado Como Aqui Chegámos?. Isto representou uma mudança de paradigma, e uma tentativa de relatar a biografia não autorizada e condensada do leitor – do Big Bang ao nascimento – em menos de 32 páginas.
O meu primeiro título de não-ficção pura foi um livro sobre um dos pontos cegos culturais mais prementes, o desperdício, intitulado O Teu Planeta Precisa de Ti!. Como acontece com todos os meus livros ilustrados de não-ficção, baseia-se em técnicas testadas para passar a informação. O humor é o método mais eficaz. Pela minha experiência, um sorriso na mente é, de longe, o melhor cavalo de Troia para a transmissão de conhecimento.

 

Escreve e ilustra os seus próprios livros. Que vantagens encontra no facto de estar envolvido na conceção de todo o livro?

 Poder ilustrar o meu próprio trabalho é um enorme privilégio, e tenho consciência disso, não o dou por garantido (sei que as minhas capacidades como ilustrador são fraquinhas, na melhor das hipóteses).
A vantagem mais óbvia é a possibilidade de manter um grau de pureza e simplicidade no trabalho, permitindo (em teoria!) que a ideia ressoe mais profundamente do que uma ideia sobrecarregada de vozes potencialmente em conflito. A desvantagem mais comum de trabalhar a solo ocorre quando um esboço inicial da obra apresentado como um todo, texto e ilustrações, parece frequentemente “concluído” antes de realmente estar. Ou seja, há menos crítica e contributos externos do que num projeto colaborativo. Por isso, nessas fases iniciais, é essencial ter o aconselhamento de colaboradores de confiança, como outros autores e editores.

 

Onde vai buscar as ideias para os temas a desenvolver nos livros?

Tenho três filhos (9, 7 e 5 anos) e procuro usar as suas perguntas e conversas como uma bússola para encontrar novos temas. Muitas vezes, e sem intenção, as crianças dão-me ideias através das suas travessuras.
De forma mais geral, creio que temos muitos pontos cegos na nossa cultura que precisam de discussão (por ex., O que acontece ao nosso lixo? De onde vem a energia que usamos? Para que serve a democracia?). Tenho uma lista em permanente construção destes temas e ideias, que parecem atropelar-se em termos de prioridade à medida que o tempo passa. Não acho que esteja a trazer nada de particularmente novo para cima da mesa, mas se os meus livros servirem para ajudar a despertar o interesse por qualquer um destes tópicos em algumas das maravilhosas mentes da próxima geração, então fico feliz :).

 

O mundo é complexo. Como faz para traduzir conceitos difíceis de forma simples, sem simplificar demasiado o conteúdo?

Um passo de cada vez. Nós, humanos peludos, temos tendência a gostar de ver o mundo através de pequenas histórias simples e lineares. Por isso, ter a cronologia como base ajuda a traduzir ideias complexas. E como já referi, a minha audiência doméstica de três crianças em idade escolar dá uma enorme ajuda. Discussões abertas com os miúdos permitem-me aferir as fronteiras do seu conhecimento atual sobre temas novos e já conhecidos. Estas pequenas conversas prosseguem para determinar o nível, o ritmo e a transmissão da informação. E, claro, há sempre a abordagem à William Morris: “Não tenhas nada em casa que não consideres útil ou belo.”

 

Os seus livros estão publicados em várias línguas e em mais de 30 países, e têm recebido prémios. Qual é o segredo deste sucesso?

Não tenho a certeza de ser assim tão bem-sucedido, mas obrigado :). Posso assegurar-vos que é sobretudo uma questão de sorte, muito trabalho duro, e creio que boas intenções. Gostaria de fazer a minha parte para deixar o mundo em melhor forma do que estava quando aqui cheguei. Transmitir ideias através de livros ilustrados tem sido a melhor forma que encontrei para o fazer, até agora, com o meu conjunto limitado de competências.

 

Tem tratado sobretudo de temas das ciências naturais, da vida animal e do ser humano. Este novo livro que acaba de ser publicado em Portugal, Democracia, entra numa área diferente. Tem mais projetos na esfera das ciências sociais e políticas?

Como referi anteriormente, mantenho uma lista em construção de temas que podem ser definidos como pontos cegos culturais e sociais, que adoraria explorar. Temas que importam, mas que não discutimos frequentemente com as crianças. Não gosto assim tanto de política, mas tenho a ambição de fazer livros ligados a disciplinas das ciências sociais. Ideias para livros que exploram a antropologia, a linguística, a cidadania moderna e os media, estão todos bem posicionados na minha lista.

 

Como é o seu dia a dia? Dedica-se inteiramente aos livros ou tem outras ocupações?

Sou autor e ilustrador a tempo inteiro, assim como pai a tempo inteiro de três crianças bastante enérgicas. Estes dois papéis deixam-me com muito pouco tempo para outras coisas, mas sinto-me muito sortudo com a vida que levo. Adoro o que faço e acordo todas as manhãs desejoso de me atirar ao trabalho. Eis um típico dia de trabalho:

 

04h00: O despertador toca. Primeira ordem de trabalhos: Dois macchiatos duplos.

o4h00-6h00: Trabalho intensivo. Começar cedo ajuda-me a aproveitar uma ou duas horas sem interrupções para as tarefas « mentalmente mais desafiantes de cada dia (trabalho a partir de um estúdio em casa). Qualquer tarefa que requeira maior atenção e concentração acontece cedo.

06h00-08h00: Caos ao pequeno-almoço antes da escola! Os miúdos acordam… Eu e a Laura tentamos aprontá-los, fazê-los lavar os dentes, ver se os TPC estão feitos, vesti-los de forma minimamente respeitável, penteá-los… etc. Antes de serem recambiados para a escola.

08h00 – 12h00: Trabalho (mais ou menos) focado. Estas quatro horas costumam ser bastante produtivas. A casa está sossegada, o telefone está no silêncio… Utilizo estas horas para despachar o máximo de tarefas com o mínimo de distração.

12h00 – 13h00: Almoço. Tivemos a sorte de visitar Itália no início deste ano, onde redescobri uma paixão por saladas Caprese :). Atualmente, o meu almoço típico é uma taça gigante de salada caseira tipo Caprese com tomates maduros, demasiado bocconcine, manjericão, espinafres, aipo e doses generosas de azeite e balsâmico.

13h00 – 15h00: Trabalho ainda menos focado. Trabalhar por conta própria implica uma carga substancial, e muitas vezes subestimada, de tarefas administrativas. Depois do almoço, tento pôr em dia todas as partes menos interessantes de gerir um negócio: telefonemas, papelada, contas, emails, correios e afins.

Das 15h00 em diante: Os miúdos regressam. Fim do foco. As tardes são para a família, assuntos domésticos, um pouco de exercício (atualmente correr ou remar), depois jantar, histórias com os miúdos… e cama! Dias felizes.

 

Democracia!

13,45

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