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A despedida de um lugar e a aventura da mudança

Publicado a 17/10/2022, na categoria: Nuvem de Letras, Destaque, Sugestões

Há uma Menina e uma cadela, Jasmim, que vivem numa ilha «que nunca está no mesmo sítio e ninguém sabe ao certo onde fica». Em vésperas de partirem de barco «pelo grande mar», cumprem rituais de despedida e enfrentam grandes escolhas: o que levar na viagem? É este o mote para as sessões de exploração da leitura do livro O Som das Coisas Leves Quando Caem (ed. Nuvem de Letras), guiadas pela autora do texto, Catarina Ferreira de Almeida, que também nos fala das suas influências e do seus gostos enquanto jovem leitora.

 

A partir de um texto profundamente poético, a que as ilustrações de Sérgio Condeço emprestam cenários oníricos, Catarina Ferreira de Almeida, autora e tradutora premiada que assina o seu primeiro livro infantojuvenil, propõe explorar com os alunos a premissa que está na origem desta história.

O Som das Coisas Leves Quando Caem é uma história sobre a despedida de um lugar e a aventura da viagem e da mudança. Uma Menina e a sua cadela, Jasmim, despedem-se da ilha onde sempre viveram e pensam em conjunto no que podem levar dentro do pequeno barco que as transportará pelo grande mar.

Coisas leves, mas que ocupam muito espaço, coisas que nem se veem mas que pesam toneladas… Coisas materiais, como uma cana de pesca, um vaso, ou uma caixa de pastilhas elásticas, e coisas imateriais, como a coragem, o amor, ou o mau feitio da Menina (que talvez não caiba dentro do barco).

 

«Jasmim sentou-se com as suas dúvidas, a coçar uma orelha. A Menina só tinha meia dúzia de objetos para pôr dentro do barco, mas ela tinha árvores e encostas verdes onde se projetavam as sombras dos pássaros. Tinha a luz do Sol quando rompia o nevoeiro e nuvens cor-de-rosa que se acendiam e apagavam como candeeiros. E onde voltaria a encontrar aquele cheiro? O cheiro dos arbustos de alfazema e de alecrim onde, todas as manhãs, fazia chichi? A sua bagagem estava espalhada por toda a parte. Nunca caberia dentro de um pequeno barco. »

 

A história evoca ambientes físicos e emocionais ligados ao mar e à saudade, que relacionamos, por exemplo, com os contos de Sophia de Mello Breyner Andresen, uma referência para a autora.

«Sim, a Sophia é, tanto na poesia como nos contos, uma referência incontornável. Há nela várias saudades com que me identifico – a saudade da natureza, de que andamos exilados, a saudade dos clássicos, do seu pensamento claro e rigoroso, a saudade da infância, do tempo ainda intacto, da promessa. A Sophia, antes de ser um conto ou um poema, é uma atitude. Cumpre esse ensinamento de Fernando Pessoa de que a forma perfeita é uma ideia e não uma palavra.

A Menina do Mar entrou na minha vida muito cedo – era um conto que a minha mãe andava sempre a reler, porque, de cada vez que o relia, ia parar àquela “casa branca nas dunas, voltada para o mar”. O derradeiro refúgio. Sophia também regressa a essa casa branca várias vezes nos seus poemas:

A Casa branca em frente ao mar enorme,
Com o teu jardim de areia e flores marinhas
E o teu silêncio intacto em que dorme
O milagre das coisas que eram minhas.»

 

Além de Sophia, vários outros livros e autores acompanharam a infância e juventude de Catarina Ferreira de Almeida, que reconhece as vantagens de «ler sem compreender». Alguma coisa fica, mesmo que nem tudo seja claro.

«O meu pai tinha e tem uma maravilhosa coleção de banda desenhada que construímos os dois durante a minha infância e juventude. As minhas primeiras leituras foram autores como Enki Bilal, Alejandro Jodorowski, Moebius, François Bourgeon, Miguelanxo Prado, Hugo Pratt… Passei pela fase de Os Cinco e de Uma Aventura, mas preferia a coleção Vampiro, e sobretudo as histórias do Inspector Maigret, de Georges Simenon. Na adolescência, lia sem compreender Marguerite Duras e Yukio Mishima, estava em paz com o que não compreendia, tinha essa humildade. E partes desses textos que, na altura, eram opacas, foram-se tornando mais claras com o passar dos anos. Outras não.»

 

Conheça a tipologia das sessões de exploração de leitura de O Som das Coisas Leves Quando Caem

 

Atividade I:

Pede-se de véspera que cada aluno escolha um objeto que levaria consigo se tivesse de mudar de casa e fazer uma grande viagem para outro lugar.

No dia, depois uma apresentação do livro na presença da Jasmim, cada aluno apresenta o seu objeto, explicando qual é a sua importância e porque é que o escolheu.

A história desse objeto e os motivos da escolha podem suscitar outras perguntas: que coisas imateriais levamos connosco quando temos de nos despedir de um lugar e refazer a nossa vida noutro lugar? A coragem, a curiosidade, o gosto da aventura, o desafio da descoberta?

 

«Ao olhar para baixo, viu a sua casa em miniatura, o jardim, a horta e os cerrados. E tentou gravar aquela imagem no pensamento, como se fosse um postal. Tinha medo de vir um dia a esquecer-se da ilha. E que, de longe, a perdesse.»

 

Atividade II:

Conversa sobre o título do livro:  O som das coisas leves quando caem. Na ilha onde vivem a Menina e a sua cadela, é o som do nevoeiro, caindo por camadas, como um véu que cobre o mundo, ou uma cortina entre fantasia e realidade. É o som de um mundo paralelo, que só ouvimos quando estamos muito atentos.

Na nossa realidade, cheia de ruído e de apelos vários que dispersam a atenção, que espaço reservamos para o silêncio e a contemplação? O que é a leitura se não escuta? A perseguição de um som quase inaudível e que, no meio do ruído, nos escapa? O que procura quem lê, o que procura quem escreve?

 

«As luzes da janela da cozinha estavam acesas e a cadela deu um pulinho e espreitou lá para dentro: viu o Pai, a Mãe e a Avó sentados à mesa, a jantar. Um silêncio invulgar pairava sobre eles. E, de cada prato fundo, libertava-se o cheiro doce do caldo de carne e um fio ondulante de vapor. Que era como os fios do pensamento do Pai, da Mãe e da Avó enquanto ali estavam reunidos, em silêncio, a jantar: partiam de baixo, fininhos, e espalhavam-se pelo teto, adensando-se.»

 

Agendamento de sessões: educacao@penguinrandomhouse.com

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