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Joana «É essencial ter uma relação saudável com o erro»

Publicado a 07/12/2023, na categoria: Booksmile, Destaque, Entrevistas

Acaba de chegar a 2.ª edição do livro Eu Sou Super!, de Joana Laranjeiro, criadora do projeto Mãe Catita, que reúne vários recursos de apoio a pais e educadores. Parentalidade para o futuro e coaching parental são as ideias-chave. O livro propõe 50 exercícios, fáceis e divertidos, que ajudam a desenvolver uma autoestima forte e saudável. Promover o autoconhecimento, aceitar e regular as emoções, aprender a lidar com o erro — são algumas das estratégias para lidar com os desafios do dia a dia e as adversidades da vida.

 

Somos todos super, mesmo?

O que nos torna “super” é o que nos torna únicos. Tudo o que autenticamente faz parte de “nós”.
O que acontece, é que a maioria das pessoas está totalmente desligada dessa sua verdade, do seu potencial, da sua voz interior única, dos seus talentos, forças, dificuldades, certezas e dúvidas. Todos estes ingredientes tornam uma pessoa super… super ela própria. Quando todas estas facetas são reconhecidas, ativadas e acolhidas a autoestima fica super vitaminada.

 

O livro sublinha a diferença entre autoconfiança e autoestima? Qual é?

Muitas vezes, quando uma criança tem problemas de autoestima, os pais começam por trabalhar a autoconfiança, mas são áreas totalmente diferentes.
A autoestima é a forma como eu me relaciono, aceito e estimo as diferentes partes de mim. Floresce quanto mais me conheço, quanto mais me apoio, e percebo quem SOU. Incluindo com a mesma gentileza, as partes boas, e as partes que precisam de atenção extra. Está relacionada com o domínio do SER. É a qualidade da relação que tenho comigo.
A autoconfiança está relacionada com o domínio do FAZER, ou seja, quanto mais eu treino determinada competência, vou obtendo melhores resultados e mais confiante me sinto nessa determinada área.
Se eu tiver uma autoestima saudável, posso ter um resultado desastroso numa atividade em que me sentia competente e confiante, e voltar a tentar, porque sei que SOU mais do que o resultado que obtive. No entanto, se a autoestima estiver fragilizada, uma experiência de frustração tão intensa, pode levar-me a desistir, porque me sinto demasiado identificado com o resultado que obtive, e com o julgamento e opinião dos outros.

 

Como se constrói uma autoestima forte e saudável? Podes dar umas pistas?

Para termos uma autoestima saudável precisamos fortalecer as 9 áreas identificadas no livro Eu sou Super- Pequenos exercícios para uma grande autoestima. Precisamos de promover o autoconhecimento, aceitar e autoregular as nossas emoções, cultivar a presença no momento, praticar a empatia aliada aos limites pessoais. Sentir que fazemos parte de um grupo ao ter consciência das pessoas que nos apoiam e amam. Precisamos de autonomia e responsabilidade, alinhadas com a idade e maturidade, dando ferramentas internas para lidar com os desafios e curvas da vida. Para isso, é essencial uma relação saudável com o erro e a frustração. E ter uma voz interior que nos apoia quando algo corre mal. Um amigo interior em vez de um crítico feroz. Essencial para tudo encaixar, é praticarmos conscientemente o autocuidado.
Estes são os diferentes “músculos” que devemos trabalhar, e podemos descobrir como fazê-lo através de 50 exercícios catitas para toda a família que encontramos no livro.

 

As crianças também aprendem a falhar melhor?

Nas escolas os erros são apontados a vermelho, aprendemos desde cedo a evitar o erro. Nos ditados contam-se os erros, e não as palavras certas. Ou seja, culturalmente aprendemos a olhar para o que está errado.
Quando temos medo de errar, temos medo de crescer e de arriscar. Uma autoestima saudável tem consciência da diferença entre o que “é” e o que “faz”, olhando para os erros como focos de crescimento e aprendizagem.

 

A vida digital e as redes sociais são uma ameaça à autoestima?

A autoestima funciona como um sistema imunitário social, que aumenta a sua resiliência perante estímulos externos. Se tenho uma autoestima saudável, sei quem sou, e aceito todas as dimensões da minha pessoa, tenho as ferramentas adequadas para usar as redes sociais a meu favor.
Por outro lado, quando o meu foco está na opinião e julgamento do outro, não tenho as bases emocionais sólidas para navegar a vida digital. Esta aprovação do outro, é especialmente poderosa durante a adolescência, quando a nossa identidade individual é muito definida pela nossa interação e aceitação pelo grupo, uma fase muito importante para vitaminar a autoestima.

 

A autoestima transmite-se de pais para filhos?

As crianças aprendem muito pelo exemplo, existe algo extraordinário no cérebro chamado “neurónios espelho” que possibilitam esta transmissão de informação. Quando os pais têm uma autoestima saudável, têm naturalmente relações saudáveis consigo próprios, o que resulta em relações emocionais estáveis e de amor incondicional em casa. Esse exemplo permite dar uma referência à criança do tipo de relação que ela deve ter consigo. Habitua-se a crescer no autocuidado, na presença, na autoregulação emocional, na flexibilidade, e a ter uma voz interior que a apoia (bem como exterior), tudo isto permite à criança desenvolver uma autoimagem complexa e extremamente positiva. A estima que os pais têm por si, comunicada pelo amor incondicional aos filhos, gera na criança uma autoestima saudável.

 

Podes dar um ou dois exercícios de emergência para fazermos antes de um momento delicado, como um exame ou uma apresentação, por exemplo?

Perante um momento delicado, a primeira coisa a fazer é respirar em câmara lenta para a barriga. Prolongaaaaaaando a expiração. Isto vai permitir que o foco volte ao corpo, que o sistema nervoso acalme, e que eu consiga recuperar o meu foco e poder pessoal. Depois, fazer a posição “Eu sou super” com os pés afastados, mãos nas ancas, peito aberto e o olhar ligeiramente para cima. Nesta posição, respiro profundamente 5 vezes. Já está, ficamos prontos para um novo desafio!

 

Como são as sessões que levas às escolas? Podes descrever brevemente a dinâmica?

Nas escolas gosto muito de trabalhar várias facetas da autoestima: o growth mindset, lidar com o erro, promover o autoconhecimento, ter uma voz interior saudável…
Sinto que as emoções e a empatia, pilares fundamentais de uma autoestima saudável, infelizmente, na correria académica, têm pouco espaço para existir, e merecem uma atenção extra. Cada vez mais cedo, estão a aparecer crianças com stress, esgotamento e cansaço mental. Perceber e comunicar as suas emoções é essencial para um equilíbrio interior e para a qualidade das suas relações.
Através de atividades, criamos um espaço de reflexão para alunos e professores, uma pausa interior na correria do ano letivo que possibilita trazer mudanças no dia a dia da escola. Mais consciência de si e do outro, mais inspiração para evoluir e crescer. E mais espaço para aprender, catita não é?

 

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