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Margarida Fonseca Santos: «Confiem em vós mesmos»

Publicado a 06/06/2023, na categoria: Fábula, Destaque, Entrevistas

Publicado na coleção A Escolha É Minha, de Margarida Fonseca Santos, Ser Quem Sou aborda a dificuldade de assumir certas escolhas perante os outros, seja a família, os amigos ou a sociedade em geral. Por medo de reações ou consequências, adiamos decisões ou revelações que definem aquilo que somos. No mês em que se celebra a diversidade, falámos com  a autora sobre esta história poderosa.

 

O livro Ser Quem Sou foi lançado há uns anos, numa altura em que não se falava tanto na questão da identidade de género e orientação sexual, mas já se verificavam alguns problemas como a dificuldade de alguns pais em aceitar a homossexualidade dos filhos. Qual foi o seu objetivo ao abordar este tema?

Penso que o mais importante é mostrar como pode acontecer. No livro, temos primeiro uma reação negativa e quase agressiva, até existir uma conversa e um apaziguamento da situação. A ideia central deste livro é a de acompanhar quem está nessa situação – a de contar a verdade e assistir ao que acontece a seguir. Recordo-me de um encontro com leitores em que, a meio da conversa, várias pessoas se terem assumido ali, no grupo, como homossexuais, e da beleza que foi a reação dos colegas. Houve abraços e lágrimas de alívio. Para quem, como eu, que escreveu com esta intenção, a de dar coragem a quem se quer afirmar e informação a quem está por perto, foi um momento muito gratificante e deveras comovente.

 

Na adolescência é frequente que os jovens se questionem acerca da sua orientação sexual, que se pensa que tenha por base fatores biológicos e sociais. Como se pode combater a ignorância e o preconceito que têm consequências tão negativas para os adolescentes homossexuais?

Informando, escrevendo sobre isto. Mostrando situações que aconteceram perto de nós, falando do passado. Quando se fala de que, durante a ditadura, os homossexuais eram presos, o espanto é enorme; mas quando se compara às situações de agressão e desprezo atuais, é fácil perceber que não estamos assim tão longe das reações baseadas na ignorância. Ninguém «escolhe» ser homossexual – aquilo que escolhe é o momento de o dizer aos que o rodeiam. E assim é fácil de imaginar a quantidade de pessoas que, sendo homossexuais, escolhem nada dizer, por receio das reações. Lembremo-nos disto: o Professor Daniel Sampaio, no lançamento do primeiro livro que escrevi sobre este tema, disse que, numa turma, é natural que um quarto das pessoas seja homossexual.

 

Em que medida a escola pode ser uma ajuda para eles?

A escola é o lugar do conhecimento, da informação, e é um espaço de respeito pela diferença. Creio que os professores, mais ainda os diretores de turma, deverão acolher qualquer tentativa de alguém se revelar. Dar o exemplo, recebendo a notícia com tranquilidade e empatia, dando apoio e informação. Lembro-me de uma vez dizer, numa conversa com um rapaz homossexual, que nada mudara – o que era, antes de dizer que era homossexual, mantinha-se imutável, depois de o dizer. Ele era a mesma pessoa, o que por vezes não parece claro na cabeça de quem dá o passo. Sentem que falharam, desiludiram, coisas que nunca deviam estar presentes, ou, estando, deveriam ser imediatamente desmanchados pelos adultos em torno dessa pessoa.

 

Qual seria o seu conselho para os jovens que querem “ser quem são” e têm medo ou vergonha de o assumir perante a sua família ou círculo de amigos?

Gostava de vos dizer que confiem em vós mesmos e não temam as reações. Às vezes, haverá reações a quente, que depois de desvanecerão. Pensem nisto: quem se assume perante os outros como homossexual teve anos de luta interior, dúvidas, receios, pensamentos. Costumam, por isso, ser muito maduros. Quem ouve (um pai, uma mãe, um amigo, etc.) começa a dar os seus primeiros passos no assunto naquele instante. É preciso ajudá-los a compreender, ensiná-los a entender melhor esta realidade.
Confiem também nos outros, nos que vos rodeiam. Na verdade, quase sempre, alguns já sabem disto há muito tempo, apenas respeitaram o vosso tempo, o tempo em que se decidiram e contaram.

 

 

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