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Sérgio Franclim: «A poesia está por todo o lado e fascina-nos»

Publicado a 31/01/2024, na categoria: Booksmile, Destaque, Educação, Entrevistas

Professor de Português e Estudos Clássicos, Sérgio Franclim apresenta o seu mais recente livro, Camões: As aventuras e desventuras de um poeta épico (ed. Booksmile). Um livro para os mais jovens, que conta a vida de Luís de Camões como se de um filme de heróis se tratasse. Afinal, a obra é dirigida à geração Alpha. Poderá ser «um andar solitário» entre os nativos digitais, mas o poeta continua a exercer o seu fascínio.

 

Como te tornaste escritor de livros para crianças?
Escrever livros para crianças começou por ser um mistério na minha vida. Contudo, sei que criei a personagem principal do meu primeiro livro infantil, A Cidade dos Sonhos, enquanto professor. Depois, a experiência de ter sido pai também me inspirou. Até então, tinha publicado, essencialmente, poesia e ensaios relacionados com a História de Portugal. Por isso, a publicação de um livro infantil, que dediquei à minha filha Leonor, foi realmente uma surpresa, pois nunca pensara em publicar para os mais novos. Além disso, ter escrito um livro desse género deu voz à criança que existia esquecida dentro de mim; e essa voz não mais se calou.

 

Enquanto professor, que estratégias usas para estimular o gosto pela leitura?
Estimular o gosto pela leitura é um verdadeiro desafio, já que o mundo de hoje apresenta uma variedade de opções aparentemente mais atraentes para as crianças e jovens. De facto, as novas tecnologias envolvem os mais novos e estes ficam prisioneiros de um mundo, onde a leitura tem pouco espaço para triunfar. Por isso, procuro estimular a leitura salientando os mistérios que as histórias têm, assim como os mistérios dos que as escreveram. Ler é sempre fascinante desde que o livro seja adequado à faixa etária. E ser um bom leitor é como ser um herói da leitura, pois o ser humano é feito de palavras e histórias. Por isso, quanto mais palavras e histórias tiver cada pessoa, maior ela será.

 

Este novo livro sobre a vida e obra de Camões, a propósito do 500.º aniversário do seu nascimento, o que traz de novo?
Este novo livro apresenta-nos um dos maiores poetas da língua portuguesa de uma forma simples, como se a vida de Camões fosse uma aventura que podemos viver através da leitura. Os mais novos poderão conhecer um grande português do século XVI, que viveu uma vida intensa, cheia de aventuras e desventuras. Camões foi expulso da universidade, perdeu um olho a combater, foi preso, partiu para o Oriente, onde combateu piratas, sobreviveu a um naufrágio, etc… Sem quaisquer dúvidas, a vida de Luís de Camões é fascinante e cheia de episódios aliciantes. Ele é o exemplo maior de um dos grandes homens do Renascimento em Portugal.

 

A linguagem poética pode ser um antídoto contra a aceleração imposta pelo excesso de ecrãs e tecnologia?
A poesia está por todo o lado e fascina-nos. De facto, enquanto bebés ou crianças, os sons, as repetições, as brincadeiras com as palavras e os seus duplos sentidos são uma presença que nos acompanha. A poesia é a arte de sentir as palavras e as suas construções figuradas. Para isto, é necessário tempo e a poesia pode, efetivamente, combater o mundo veloz que envolve as crianças atualmente. Além disso, a poesia é a porta para compreendermos e exprimirmos melhor os nossos sentimentos.

 

Sobre o ensino d’ Os Lusíadas na escola, como tornar compreensível e apetecível para os mais novos um texto escrito numa linguagem tão complexa?
Primeiro que tudo, Os Lusíadas têm de ser sempre contextualizados. Estamos a falar de uma obra escrita por um homem com uma cultura clássica vastíssima e com o português dessa época. Quando o livro é apresentado aos mais novos, devemos logo chamar a atenção para aquilo que o torna único: é uma longa narrativa escrita com estrofes de oito versos; todas as estrofes obedecem sempre ao mesmo esquema rimático; além disso, os versos têm sempre a mesma extensão ao nível das sílabas métricas; etc. Não é qualquer poeta que escreve um poema épico e que segue os passos de Homero e Virgílio. Efetivamente, Os Lusíadas está a par da Odisseia e da Eneida. Aliás, o próprio Camões considera o herói coletivo da obra, os portugueses, maior do que Ulisses e Eneias… Contudo, apesar da grandiosidade, a obra tem de ser lida e explicada aos alunos por um professor que ame o que ensina.

 

A mitologia, tema do teu livro anterior publicado pela Booksmile, é também uma fonte inesgotável de histórias. O que podemos aprender com os mitos e os seus heróis?
Os deuses e heróis gregos estão vivos de inúmeras maneiras. Eles têm sido uma presença constante na cultura ocidental. Por exemplo, os super-heróis de hoje não são mais do que expressões dos antigos deuses e heróis. Além do mais, os deuses e heróis ajudam-nos a refletir a nossa condição humana, mesmo que não tenhamos a eternidade dos deuses nem tenhamos os superpoderes dos heróis. Contudo, os dilemas que têm e as suas ambições são iguais às que temos. Refira-se ainda que a mitologia nos ajuda a compreender o mundo que temos, já que culturalmente todos somos gregos e romanos.

 

Que abordagens fazes de ambos os livros nas sessões escolares? Quais são as dinâmicas?
Por fim, qual o teu soneto favorito de Camões?
Nas escolas, gosto de contar histórias e de envolver os alunos nessas histórias. Habitualmente, uso as novas tecnologias para tornar as sessões mais atrativas, pois os alunos de hoje precisam, por vezes, desse incentivo. Contudo, o centro da sessão são as palavras, as histórias, pois todas pessoas tendem naturalmente a ser cativadas por elas…
O meu soneto favorito de Camões?… É fácil escolher: «Amor é fogo que arde sem se ver..».

 

Obrigado pela entrevista. Antes de me despedir, permitam-me deixar aqui um agradecimento a todos aqueles que me têm acompanhado na aventura de publicar, desde editores, revisores, ilustradores, além de tantos outros seres que me têm inspirado a escrever.

 

 

Camões

13,46

Como foi a vida de um escritor épico como Luís de Camões?

Um livro dedicado a Camões, a respeito da celebração dos 500 anos do seu nascimento.

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